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A criminalização do bullying e a Educação

A criminalização do bullying e a Educação

Criminalizar a agressão é atacar o sintoma e deixar a sua causa de lado.

Postado em 14/06/2013 às 22:55

Tornar o bullying crime é o tema que atualmente está na pauta dos desejos da sociedade em nosso país. Para discutir alguns aspectos associados ao tema vamos partir da afirmação de que todo ser deseja evitar o sofrimento e busca a Felicidade, e ao mesmo tempo consideremos que a frustração gera raiva e violência. Você certamente nunca viu alguém feliz da vida em um estado raivoso ou agressivo. Então, o que não está funcionando bem e causando um numero cada vez maior de agressões físicas e morais entre os estudantes?

Criminalizar a agressão é atacar o sintoma e deixar a sua causa de lado.

Uma queixa bastante frequente em nosso trabalho clínico é a dificuldade que algumas pessoas sentem de amar, de ser generoso. A sensação de falsidade gerada pela amistosidade cínica, dos “tapinhas nas costas” levanta suspeitas e nos intriga. Este é um clima de incômoda superficialidade.

Certo grau de perversidade sempre foi comum entre os jovens, pois eles ainda não aprenderam controlar suas emoções e pensar nas consequências de seus atos. Mesmo há décadas atrás eram corriqueiras as brincadeiras de mau gosto e os apelidos depreciativos, mas na atualidade os limites foram muito ultrapassados.

O homem de hoje tem seu olhar voltado para o exterior e pouco se volta para seu autoconhecimento e transformação pessoal. A Felicidade está projetada em símbolos de status, de posses, de corpos sarados, viagens e capacidade de produzir. O que importa é “parecer”, sem grande preocupação com o “ser”; com os sentimentos, emoções, valores éticos e relacionamentos interpessoais.

Se você vender a ideia de que sua Felicidade depende do seu consumo muitos irão acreditar. Visitamos os shoppings com o sentimento de uma criança que vai ao parque de diversões, buscamos os carros potentes, os melhores diplomas e os mais importantes empregos. Somos convocados a ser multitarefas.

Dentro deste cenário estão lançadas as bases para o individualismo e o egoísmo, que sustentam a lógica da estratégia de luta. É cada um por si. Hoje sabemos que as pessoas egoístas são mais predispostas a problemas do coração, se zangam facilmente e são mais solitárias.

É fácil imaginar o estresse a que os jovens estão submetidos, acreditando que tem de competir e vencer o tempo todo e, é importante considerar que entre os sintomas do estresse estão a irritabilidade e a impulsividade.

Outro aspecto da inabilidade para se aprofundar nas reflexões inerentes à vida é a forma quase infantil que boa parte da sociedade trata a emoção da raiva. A ideia disseminada e apoiada pela sociedade é que você não deve guardar a raiva e sim colocá-la para fora, desabafar, ou “olho por olho, dente por dente”. Esta lógica segue o raciocínio de que não conseguimos suportar emoções intensas ou desagradáveis para depois elaborá-las e, assim, como em um vômito, expulsamos o conteúdo desagradável. Isso nos impede de refletir e consequentemente amadurecer.

Os educadores poderiam destacar a importância da condição de interdependência entre todos e assim amenizar a tendência ao individualismo exagerado. Se você vive em um ambiente positivo, seja sua casa, escola ou trabalho, tudo corre melhor e este clima depende de cada um de nós. É preciso entender que a cada ação temos uma reação, uma lei básica da física. Assim, agressão gera agressão, cooperação e generosidade amistosa geram os mesmos sentimentos. Esta reflexão pode levar os jovens a desenvolver sua responsabilidade e empatia.

Aqueles que se preocupam com a educação no seu sentido mais amplo, poderiam olhar com mais atenção para este importante fato: o jovem precisa compreender seu mundo interno, seus valores, suas emoções, para depois trabalhar com eles. A Educação deve se referir ao homem como um todo, em seus aspectos físicos, emocionais e espirituais e não apenas a desenvolver seu intelecto.


Fonte:
Rubens de Aguiar Maciel (PhD).
Psicanalista
Doutor pela Faculdade de Saúde Pública da USP
Coordenador da Clínica de Redução do Estresse Baseado na Meditação da Atenção Plena,
no Centro de Saúde Paula Souza da Faculdade de Saúde Pública da USP.

www.rubensmaciel.com.br







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